sábado, 29 de setembro de 2012

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                                         principais escritores        

Biografia

Nascido em lar humilde, na Rua do Cónego, perto da Sé, em Lisboa, foi o primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta. .
Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em 1618.

No Brasil

António Vieira chegou à Bahia, onde em 1609 seu pai passou a trabalhar como escrivão no Tribunal da Relação da Bahia, o que motivou a vinda de toda a família. Em 1614, iniciou os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador,[2] onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se um brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623.
Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se sacerdote em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador.
Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da guerra.

Em Portugal

Após a Restauração da Independência (1640), em 1641 regressou a Lisboa iniciando uma carreira diplomática, pois integrava a missão que ia ao Reino prestar obediência ao novo monarca. Sobressaindo pela vivacidade de espírito e como orador, conquistou a amizade e a confiança de João IV de Portugal, sendo por ele nomeado embaixador e posteriormente pregador régio. Ainda como diplomata, foi enviado em 1646 aos Países Baixos para negociar a devolução do Nordeste do Brasil, e, no ano seguinte, à França. Caloroso adepto de obter para a Coroa a ajuda financeira dos cristãos-novos, entrou em conflito com o Santo Ofício, mas viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil.

No Brasil, outra vez

Em Portugal, havia quem não gostasse de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, de 1652 a 1661, missionário no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios.
Diz o Padre Serafim Leite em Novas Cartas Jesuíticas, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos índios e crítica de costumes". "Manuel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!"
                                                     

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

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8- Bento teixeira (1560-1618) 

BENTO TEIXEIRA

Veio para o Brasil, com sua família, em 1567. Fez seus primeiros estudos no colégio dos jesuítas, no Espírito Santo; em 1576 mudou-se para o Rio de Janeiro RJ, onde estudou com os padres da Companhia de Jesus. Terminou seus estudos com os jesuítas em 1579, em Salvador BA. Entre 1584 e 1588 manteve uma escola em Olinda PE, subsidiada pela Câmara Municipal, na qual lecionava juntamente com sua esposa. Foi acusado, no período de 1588 a 1599, de prática religiosa judaica, na época proibida pelo Tribunal da Santa Inquisição. Foi absolvido do auto-de-fé em 1785, sob acusação de blasfêmia, pelo Ouvidor da Vara Eclesiástica Diogo do Couto. Após tentativa de fuga, em 1785, foi mandado para Portugal e preso em Estaus. Lá negou a crença e a prática judaica, vindo a confessá-las depois. Abjurou do judaísmo e recebeu a doutrinação católica em um auto-de-fé, obtendo então liberdade condicional. Publicou em Lisboa, em 1601, seu poema Prosopopéia, no livro Naufrágio que Passou Jorge d'Albuquerque Coelho, Capitão de Pernambuco. Bento Teixeira teria sido o primeiro poeta nascido no Brasil; escreveu um dos poemas mais importantes do barroco brasileiro, Prosopopéia.
   

 

É o único livro de Bento Teixeira, publicado em 1601. É um poemeto épico, com 94 estâncias em oitava-rima e decassílabos heróicos, obedecendo os moldes camonianos, focalizando Jorge Albuquerque Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco e de seu irmão Duarte, quem o autor pretende exaltar. Obra de Indiscutível valor histórico onde o herói narra acontecimentos heróicos no Brasil e em Alcácer-Quibir, na África. A descrição da batalha de Alcácer-Quibir, em que os dois irmãos se distinguem com ações preclaras. Nesta parte da obra encontram-se os melhores versos saídos da pena de Bento Teixeira.


Prosopopéia

Publicada em 1601, de grande valor histórico, a obra mais famosa do escritor é o poema épico, já citado, Prosopopéia. Nele, o escritor fala sobre a vida e o trabalho de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da Capitania de Pernambuco, e seu irmão, Duarte. É a única obra reconhecida e aceita como de sua autoria.
Embora tenha sido originalmente publicada em Lisboa, na ocasião em que Bento Teixeira ali encontrava-se encarcerado, e a despeito do autor ter nascido em Portugal, atribui-se à Prosopopeia o mérito de ser uma das primeiras obras da literatura brasileira, uma vez que Bento Teixeira estudou e fez carreira no Brasil.
Escrito em oitava rima, com noventa e quatro estrofes, o poema marcou o início do movimento barroco no Brasil. Ao que parece, a obra foi influenciada pelo poema Os Lusíadas, de Camões. Tal influência é percebida quando analisada a sintaxe, e a estrutura. A sintaxe é extremamente clássica, cheia de inversões, o que dificulta o entendimento por um leitor do século XXI. A estrutura segue de perto a da obra de Camões, como se percebe já de inicio pela existência de proposição (Onde apresenta o assunto da epopéia: cantar os feitos de Jorge d'Albuquerque), invocação (quando pede ajuda do Deus cristão para compor seu texto) e dedicação (o texto é dedicado a Jorge d'Albuquerque, visando ajuda financeira).
De caráter heróico, a suposta coragem e valentia dos irmãos é narrada em decassílabos. Os acontecimentos abordados dizem respeito as terras brasileiras e a região de Alcácer-Quibir, na África, onde os irmãos teriam se destacado em uma importante batalha. Ambos, teriam também sofrido com um naufrágio, quando viajavam na nau Santo Antônio.
Trecho de Prosopopéia:
Cquote1.svg LX Olhai o grande gozo e doce glória
Que tereis quando, postos em descanso,
Contardes esta larga e triste história,
Junto do pátrio lar, seguro e manso.
Que vai da batalha a ter victória,
O que do Mar inchado a um remanso,
Isso então haverá de vosso estado
Aos males que tiverdes já passado.
Cquote2.svg

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7- frei vicente do salvador (1564-1636)  

Biografia

Vicente Rodrigues Palha, como no século se chamava Frei Vicente, segundo as escassas notícias que dele temos, nasceu em Matuim, umas seis léguas ao norte da cidade da Bahia, em 1564. Como a maioria dos homens instruídos da época, estudou com os jesuítas no seu colégio de São Salvador, e depois em Coimbra, em cuja Universidade se formou em ambos os direitos e doutorou-se.
Voltando ao Brasil ordenou-se sacerdote, chegou a cônego da Sé baiana e vigário-geral. Aos trinta e cinco anos fez-se frade, vestindo o hábito de São Francisco e trocando o nome pelo de Frei Vicente de Salvador. Missionou na Paraíba, residiu em Pernambuco e cooperou na fundação da casa franciscana do Rio de Janeiro, em 1607, sendo o seu primeiro prelado. Tornou posteriormente a Pernambuco, onde leu um curso de artes, no convento da ordem, em Olinda. Regressando à Bahia aí foi guardião do respectivo convento, em 1612.
Eleito em Lisboa custódio da Custódia franciscana brasileira, no mesmo ano de 1612 teve de voltar a Pernambuco. Após haver estado em Portugal, regressado novamente à Bahia, como guardião, tornado ao Rio e mais uma vez à Bahia, aí faleceu entre os anos de 1636 a 1639.

Excerto

A obra do frei Vicente, "História do Brasil", dividida em cinco livros, narra o modus vivendi na Colônia, narrando episódios conhecidos de seus primeiros governadores, bem como anedotas, o jeito de falar e de viver nas terras ainda tão novas.
A seguir, um excerto de sua narrativa, considerada o "primeiro clássico do Brasil":
A Independência econômica do Brasil
Inopem me copia facit, disse o poeta, e disse verdade, porque, onde as coisas são muitas, é forçado que se percam, como acontece ao que vindima a vinha fértil e abundante de fruto, que sempre lhe ficam muitos cachos de rabisco e assim me há sucedido com as coisas de mar e terra do Brasil de que trato. Pelo que me é necessário rabiscar ainda algumas, que farei neste capítulo, que quanto a todas é impossível relatá-las.
Faz no Brasil sal não só em salinas artificiais, mas em outras naturais, como no Cabo Frio e além do Rio Grande, onde se acha coalhado em grandes pedras muito e muito alvas.

Historia do Brazil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Historia do Brazil é um livro escrito por Frei Vicente do Salvador em 1627 sobre a História do Brasil, sendo considerado o primeiro livro do gênero.
O livro é dividido em 48 capítulos e descreve as características da colônia, abordando seu clima, fauna, flora, seu nome, o descobrimento, a divisão e povoamento das capitanias hereditárias, os assédios de franceses e holandeses à costa brasileira etc.
Também é um dos primeiros estudos sobre a vida cotidiana na colônia, relatando como eram os costumes de casamento e criação dos filhos, dos ritos funerários, as línguas indígenas etc.

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6- sebastião da rocha pita (1660-1738)  

Biografia

Nascido no ano de 1660 na Bahia, hoje cidade de Salvador, Sebastião da Rocha Pita foi um importante historiador e poeta do século XVII. É autor de, dentre outras, uma importante obra intitulada História da América Portuguesa (1730), produzida em um período em que a capacidade de contar a História de Portugal e do império luso-brasileiro compunham um quadro de preocupações centrais de um reino atribulado em legitimar-se frente a outras nações - onde o domínio da história e sua forma de escrita como iniciativa institucional congregaria em si essa função. Como um historiador de prestígio, compunha a ordem de letrados na Academia Real de História Portuguesa (1720-1736), ocupando o cargo de acadêmico supranumerário. No cenário brasileiro, foi membro e um dos fundadores da Academia Brasílica dos Esquecidos (1724) participando ativamente como poeta e historiador nas atividades realizadas nessa congregação, que pode ser concebida como um local privilegiado para se pensar e formular a história da América Portuguesa, em um período no qual “ o movimento academicista ajudou a desencadear uma nova percepção sobre o estatuto político do território colonial, estimulando assim, a reflexão sobre a natureza dos laços que prendiam a América ao Reino: amarras simultaneamente jurídicas, familiares, lingüísticas, econômicas e culturais."[1] Formado na Escola de Jesuítas da Bahia e mestre em Artes, o nome de Rocha Pita figura na lista[2] de nomes de brasileiros formados na Universidade de Coimbra elaborada por Francisco Morais, tendo ido aos 16 anos. A formação em Portugal era um costume daqueles que tinham um prestígio social na ´colônia e que compunham assim, o quadro de letrados brasileiros. Ostentou ainda o título de coronel do regimento privilegiado de ordenanças, foi fidalgo da casa real, cavaleiro da ordem de Cristo e vereador em Salvador. Pai de três filhos, com Ana Cavalcanti, morre em 1738 , na cidade de Cachoeira, onde desde o casamento fixou residência

O poeta

Embora concebido muitas vezes por uma falta de rigor em suas obras poéticas e como “poeta ocasional” alguns recentes estudos preocupam-se em resgatar a importância de Rocha Pita como poeta, a fim de ressaltar a sua importância tanto como poeta quando como historiador. Segundo Temístocles Cézar: “nem sempre ser poeta ou romancista era incompatível com ser historiador; e ir de um gênero ao outro era uma opção, não uma impossibilidade intelectual”. Neste sentido, é importante que se compreenda a poesia de Rocha Pita inserida em uma preocupação mais ampla da Academia Brasílica dos Esquecidos em estimular uma produção poética entre os acadêmicos.

Obras Publicadas

  • Breve Compendio, e Narraçam do Funebre Espectaculo, que na insigne
Cidade da Bahia, cabeça da America Portugueza, se vio na morte de ElRey D. Pedro II. de gloriosa memoria, S. N. Offerecido À Magestade do Serenissimo Senhor Dom Joam V. Rey de Portugal (Lisboa: Officina de Valentim da Costa Deslandes, Impressor de Sua Magestade, 1709)
  • O Summario Da Vida, & Morte da Excellentissima Senhora, A Senhora Dona
Leonor Josepha de Vilhena, e das Exequias que na Cidade da Bahia consagrou às suas memorias A Senhora D. Leonor Josepha de Menezes, Esposa do Gonçalo Ravasco Cavalcanty & Albuquerque,h Fidalgo da Casa de S. Magestade, Commendador da Ordem de Christo, Alcayde mòr da Cidade de Cabo Frio, Secretario do Estado, & Guerra do Brasil, Offerecido Á Excellentissima Senhora, A Senhora Dona Maria Francisca Bonifacia de Vilhena, Filha dos Excellentissimos Senhores, o Senhor D. Rodrigo da Costa, & da Excellentissima Senhora, a Senhora D. Leonor Josepha de Vilhena, (Lisboa: Officina de Antonio Pedrozo Galram, 1721)
  • Historia da America Portugueza, desde o anno de mil e quinhentos do seu descobrimento, até o de mil e setecentos e vinte e quatro (Lisboa: Officina de Joseph Antonio da Silva, Impressor da Academia Real, 1730).

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5- nuno marques pereira (1652-1738)  

Biografia:

Muito pouco se sabe sobre a vida do padre, autor de uma obra que o livrou do olvido, e que obteve uma grande aceitação, ao seu tempo, tendo merecido sucessivas reedições, e conhecida abreviadamente como “O Peregrino da América”.

Dúvidas sobre o nascimento

Diversos autores, como José Veríssimo, dão-no como nascido provavelmente em Cairu, na Bahia, embora o médico e historiador Afrânio Peixoto acredite que seu nascimento tenha ocorrido em Portugal.
Diversas passagens de sua obra única parecem dar razão à hipótese de Peixoto, mas o pesquisador português Diogo Barbosa Machado (in: “Biblioteca Lusitana”) corrobora o nascimento na Vila de Cairu, a catorze léguas de Salvador.
Se dúvidas existem quanto ao local do nascimento, parecem confluir os pesquisadores na ideia de que sua erudição tenha sido obtida na metrópole.

Registros esparsos

As dúvidas sobre pontos obscuros da vida do Padre Nuno Marques prosseguem. O historiador Pedro Calmon assinala que teria viajado para as então chamadas “Minas de São Paulo” (atual estado de Minas Gerais) – razão primacial de sua narrativa extensa – em função de uma condenação que identificara numa carta do então Governador-Geral, Dom Rodrigo da Costa, referência a uma condenação de Nuno Marques expedida pelo Juiz de Camamu, em 1704.
A publicação do seu livro foi pelo autor solicitada ao Mestre de Campo Manuel Nunes Viana, rico minerador das Gerais que, tendo sido preso em 1725 e que fora autorizado pelo Rei ir a Lisboa, recebeu também essa incumbência.
A obra foi publicada, efetivamente, em 1728, obtendo todas as aprovações necessárias, que então se exigiam para os livros impressos.

O livro do peregrino da América

Seu título é bastante longo. Na grafia original, chamou-se:
Compendio narrativo do peregrino da america em que se tratam varios discursos Espirituaes, e moraes, com muitas advertencias, e documentos contra os abusos, que se achão introdusidos pela malicia diabolica no Estado do Brasil. Dedicado à Virgem da Vitória , emperatris do ceo, rainha do mundo, e Senhora da Piedade, Mãy de Deos
Foi publicado na “Officina de Manoel Fernandes da Costa, Impressor do Santo Officio”, na primeira edição, de 497 páginas. O sucesso desta fez com que se seguissem outras quatro, em 1731, 1752, 1760 e 1765, sendo que a segunda e a terceira obtiveram, além das licenças ordinárias, o acréscimo do “Privilégio Real”.
Um segundo volume, manuscrito, foi sendo reproduzido através de cópias, algumas delas conflitantes nas versões, sendo publicado finalmente, em edição conjunta com o primeiro, pela Academia Brasileira de Letras, no ano de 1939, intitulada de “Compêndio Narrativo do Peregrino da América”, com notas e comentários de Francisco Adolfo de Varnhagen, Leite de Vasconcelos, Afrânio Peixoto, Rodolfo Garcia e Pedro Calmon.

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(1704-1768)     


4- frei manuel de santa maria itaparica (1704-1768)  
 Biografia

Frei Itaparica, na verdade Frei Manuel de Santa Maria, nasceu em 1704 na ilha de Itaparica, Brasil, e faleceu provavelmente em 1768. Pouco se conhece da sua vida, sabendo-se apenas que professou na Ordem de São Francisco, no convento de Paraguaçu, dedicando-se, mais tarde, ao púlpito.
É autor de Eustáquios, poema sacro e tragicómico, que contém a vida de Santo Eustáquio Mártir, chamado antes Plácido, e de sua mulher e filhos, que foi publicado sem data, sem indicação de local nem autoria. Este poema, descoberto por Francisco Adolfo de Varnhagen, foi inicialmente atribuído ao padre Francisco de Sousa, autor de Oriente Conquistado, mas, na introdução do Florilégio da Poesia Brasileira, Varnhagen reformulou a sua opinião, indicando Frei Itaparica como o verdadeiro autor.
Na obra destaca-se a descrição do inferno e a narrativa dos sonhos onde o Brasil é descrito numa época anterior ao seu descobrimento. Na página 105 da primeira edição (publicada em 1769) está a Descrição da ilha de Itaparica, termo da cidade da Bahia, da qual se faz menção no canto quinto, reimpressa em 1841, onde o poeta fala com entusiasmo das belezas de sua ilha natal. O poema seria uma réplica à Ilha da Maré, de Manuel Botelho de Oliveira. São descritos os frutos, as fontes, os legumes, as árvores, as igrejas e as capelas, praticamente na mesma ordem em que estão referidas nas silvas de Botelho de Oliveira.
Frei Itaparica foi muito influenciado por Camões e é um dos precursores do nativismo literário. Não há qualquer informação segura sobre o ano de sua morte, acreditando-se que tenha ocorrido depois de 1768, pois nesse ano tinha pronto para ser publicado um conto heróico sobre as festas que se realizaram na Paraíba, por ocasião do casamento dos princípes de Portugal e Costela.
 É autor de Eustáquios, poema sacro e tragicómico, que contém a vida de Santo Eustáquio Mártir, chamado antes Plácido, e de sua mulher e filhos, que foi publicado sem data, sem indicação de local nem autoria. Este poema, descoberto por Francisco Adolfo de Varnhagen, foi inicialmente atribuído ao padre Francisco de Sousa, autor de Oriente Conquistado, mas, na introdução do Florilégio da Poesia Brasileira, Varnhagen reformulou a sua opinião, indicando Frei Itaparica como o verdadeiro autor.

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3- manuel botelho de oliveira (1636-1711)   

Biografia de Manuel Botelho:

Manuel Botelho (1636-1711) foi um advogado, político e um poeta barroco brasileiro.
Manuel Botelho de Oliveira nasceu em Salvador (Bahia), em 1636. Foi contemporâneo de Gregório de matos no curso de Direito em Coimbra, e durante esse período também se dedicou ao estudo do Latim, do Espanhol e do Italiano. Regressando à Bahia, abraçou a advocacia e a política. E graças ao empréstimo de dinheiro, tornou-se capitão de distritos em Jacobina. Em 1705, publicou em Lisboa seu livro, Música do Parnaso, que reunia produção poética e teatral (duas comédias, Hay amigo para amigo e Amor, Engaños y Celos).
Faleceu em Salvador, a 5 de janeiro de 1711, deixando Lyra Sacra, que Heitor Martins publicou em 1971 (l
   eitura paleográfica).
MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA
(1636-1711)

Manuel Botelho de Oliveira (Salvador BA, 1636 – 1711) cursou Direito na Universidade de Coimbra (Portugal). De volta ao Brasil, passou a exercer a advocacia; também foi vereador da Câmara de Salvador BA. Em 1694 tornou-se capitão-mor dos distritos de Papagaio, Rio do Peixe e Gameleira, cargo obtido em função de empréstimo de 22 mil cruzados para a criação da Casa da Moeda na Bahia. Em 1705 ocorreu em Lisboa (Portugal) a publicação de seu Música do Parnasso, o primeiro livro impresso de autor nascido no Brasil. Poeta barroco, Manuel Botelho de Oliveira conviveu com Gregório de Matos e versou sobre os temas correntes da poesia de seu tempo. No entanto, segundo o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, “uma das composições da Música do Parnasso tem caráter diferente das demais: é a silva 'À Ilha da Maré', gabada por seu nativismo, ou seja, pela exaltação dos frutos e legumes, que são colocados pelo poeta muito acima dos de Portugal. É composição por vezes sem grande tacto, mas deu origem a uma fila de trabalhos me-ufanistas, de Santa Maria Itaparica a Santa Rita Durão.”.
Fonte: www.astormentas.com

TEXTO EM PORTUGUÊS     /     TEXTO EN ESPAÑOL


A  MORTE DO PADRE VIEIRA

Fostes, Vieira, engenho tão subido,
Tão singular, e tão avantajado,
Que nunca sereis mais de outro imitado
Bem que sejais de todos aplaudido.

Nas sacras Escrituras embebido,
Qual Agostinho, fostes celebrado;
Ele de África assombro venerado,
Vós da Europa portento esclarecido.

Morrestes; porém não; que ao mundo atroa
Vossa pena, que aplausos multiplica,
Com que de eterna vida vos coroa;

E quando imortalmente se publica,
Em cada rasgo seu a fama voa,
Em cada seu uma alma fica.



MÚSICA DO PARNASO (1705)


ANARDA INVOCADA

SONETO I

Invoco agora Anarda lastimado
Do venturoso, esquivo sentimento:
Que, quem motiva as ânsias do tormento,
É bem que explique as queixas do cuidado.

Melhor Musa será no verso amado,
Dando para favor do sábio intento
Por Hipocrene o lagrimoso alento,
E por louro o cabelo venerado.

Se a gentil formosura em seus primores
Toda ornada de flores se avalia,
Se tem como harmonia seus candores;

Bem se pode dar agora Anarda ímpia
A meu rude discurso cultas flores,
A meu plectro feliz doce harmonia. 

(Música do Parnaso, I, p. 11-2)
[plectro= inspiração poética]


SONETO II

Anarda vê na estrela, que em piedoso
Vital influxo move amor querido,
Adverte no jasmim, que embranquecido
Cândida fé publica de amoroso.

Considera no sol, que luminoso
Ama o jardim de flores guarnecido;
Na rosa adverte, que em coral florido
De Vênus veste o nácar lastimoso.

Anarda pois, não queiras arrogante
Com desdém singular de rigorosa
As armas desprezar do deus triunfante:

Como de amor te livras poderosa,
Se em teu gesto florido e rutilante
És estrela, és jasmim, és sol, és rosa? 

(Música do Parnaso, 1, p. 12) 


PONDERAÇÃO DO ROSTO E OLHOS DE ANARDA

SONETO X

Quando vejo de Anarda o rosto amado,
Vejo ao céu e ao jardim ser parecido;
Porque no assombro do primor luzido
Tem o sol em seus olhos duplicado.

Nas faces considero equivocado
De açucenas e rosas o vestido;
Porque se vê nas faces reduzido
Todo o império de Flora venerado.

Nos olhos e nas faces mais galharda
Ao céu prefere quando inflama os raios,
E prefere ao jardim, se as flores guarda:

Enfim dando ao jardim e ao céu desmaios,
O céu ostenta um sol, dous sóis Anarda,
Um maio o jardim logra; ela dous maios. 

(Música do Parnaso, 1, p. 18) 


SONETO XII 

Tejo formoso, teu rigor condeno,
Quando despojas altamente ímpio
Das lindas plantas o frondoso brio,
Dos férteis campos o tributo ameno.

Nas amorosas lágrimas, que ordeno,
Porque cresças em claro senhorio,
Corres ingrato ao lagrimoso rio,
Vás fugitivo com desdém sereno.

Oh como representa o desdenhoso
Da bela Anarda teu cristal ativo,
Neste e naquele efeito lastimoso!

Em ti vejo a Anarda, ó Tejo esquivo,
Se teu cristal se ostenta rigoroso,
Se teu cristal se mostra fugitivo. 

(Música do Parnaso, 1, p. 19-20)


ANARDA ESCULPIDA NO CORAÇÃO LAGRIMOSO

SONETO XV

Quer esculpir artífice engenhoso
Uma estátua de bronze fabricada,
Da natureza forma equivocada,
Da natureza imitador famoso.

No rigor do elemento luminoso,
(Contra as idades sendo eternizada)
Para esculpir a estátua imaginada,
Logo derrete o bronze lagrimoso.

Assim também no doce ardor que avivo,
Sendo artífice o Amor, que me desvela,
Quando de Anarda faz retrato vivo;

Derrete o coração na imagem dela,
Derramando do peito o pranto esquivo,
Esculpindo de Anarda a estátua bela. 

(Música do Parnaso, 1, p. 22) 


ENCARECE A FINEZA DO SEU TORMENTO

SONETO XIX

Meu pensamento está favorecido,
Quando cuida de Anarda o logro amado;
Ele se vê nas glórias do cuidado,
Eu me vejo nas penas do sentido.

Ele alcança o fermoso, eu o sofrido,
Ele presente vi9ve, eu retirado;
Eu no potro de um mal atormentado,
Ele no bem, que logra, presumido.

Do pensamento está muito ofendida
Minha alma, do tormento desejosa,
Porque em glória se vêm, bem que fingida:

Tão fina pois, que está por amorosa,
De um leve pensamento arrependida,
De um vão contentamento escrupulosa. 

(Música do Parnaso, 1, p. 25)

A VIDA SOLITÁRIA

SONETO IX

Que doce vida, que gentil ventura,
Que bem suave, que descanso eterno,
Da paz armado, livre do governo,
Se logra alegre, firme se assegura!

Mal não molesta, foge a desventura,
Na primavera alegre, ou duro inverno,
Muito perto do céu, longe do inferno,
O tempo passa, o passatempo atura.

A riqueza não quer, de honra não trata,
Quieta a vida, firme o pensamento,
Sem temer da fortuna a fúria ingrata:

Porém atento ao rio, ao bosque atento,
Tem por riqueza igual do rio a prata,
Por aura honrosa tem do bosque o vento. 

(Música do Parnaso, 1, p. 71-72) 


A UM ILUSTRE EDIFÍCIO DE COLUNAS E ARCOS

SONETO XVII

Essa de ilustre máquina beleza,
Que o tempo goza, e contra o tempo atura;
É soberbo primor de arquitetura,
É pródigo milagre da grandeza.

Fadiga de arte foi, que a Natureza
Inveja de seus brios mal segura;
E cada pedra, que nos arcos dura,
É língua muda da fatal empresa.

Não teme da fortuna os vários cortes,
Nem do tempo os discursos por errantes,
Arma-se firme contra as leis das sortes. 

(Música do Parnaso, 1, p. 19-20)

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TEXTO EN ESPAÑOL

MANUEL BOTELHO DE OLIVEIRA
(1636-1711)


PONDERACIÓN DEL ROSTRO Y OJOS DE ANARDA

Cuando veo de Anarda el rostro amado,
veo el cielo al jardín ser parecido
que en el asombro del primor lucido
el sol tiene en sus ojos duplicado.

En los rostros yo juzgo equivocado
de azucenas y rosas el vestido;
porque se ve en los rostros reducidos
todo el reino de Flora venerado.

En los ojos y rostros más gallarda
prefiere al cielo cuando enciende rayos
y prefiere al jardín si flores guarda:

Dando a cielo y jardín, en fin desmayos,
el cielo ostenta un sol, mas dos Anarda,
un mayo el jardín logra; ella dos mayos.



Extraído de CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introducción, Traducción y Notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Insituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983

                   (Música do Parnaso)



Página publicada em abril de 2008, ampliada e republicada em junho de 2009

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2-gregório de matos(1636-1696)           

Biografia

Gregório nasceu numa família com o poder financeiro alto em comparação a época, empreiteiros de obras e funcionários administrativos (seu pai era português, natural de Guimarães). Legalmente, a nacionalidade de Gregório de Matos era tecnicamente portuguesa, já que o Brasil só se tornaria independente no século XIX. Todos que nasciam antes da independência eram luso-brasileiros.
Em 1642 estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia. Em 1650 continua os seus estudos em Lisboa e, em 1652, na Universidade de Coimbra onde se forma em Cânones, em 1661. Em 1663 é nomeado juiz de fora de Alcácer do Sal, não sem antes atestar que é "puro de sangue", como determinavam as normas jurídicas da época.
Em 27 de janeiro de 1668 teve a função de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Em 1672, o Senado da Câmara da Bahia outorga-lhe o cargo de procurador. A 20 de janeiro de 1674 é, novamente, representante da Bahia nas cortes. É, contudo, destituído do cargo de procurador.
Em 1679 é nomeado pelo arcebispo Gaspar Barata de Mendonça para Desembargador da Relação Eclesiástica da Bahia. D. Pedro II, rei de Portugal, nomeia-o em 1682 tesoureiro-mor da Sé, um ano depois de ter tomado ordens menores. Em 1683 volta ao Brasil.
O novo arcebispo, frei João da Madre de Deus destitui-o dos seus cargos por não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores, de forma a estar apto para as funções de que o tinham incumbido.
Começa, então, a satirizar os costumes do povo de todas as classes sociais baianas (a que chamará "canalha infernal"). Desenvolve uma poesia corrosiva, erótica (quase ou mesmo pornográfica), apesar de também ter andado por caminhos mais líricos e, mesmo, sagrados.

Frontispício de edição de 1775 dos poemas de Gregório de Matos.
Entre os seus amigos encontraremos, por exemplo, o poeta português Tomás Pinto Brandão.
Em 1685, o promotor eclesiástico da Bahia denuncia os seus costumes livres ao tribunal da Inquisição. Acusa-o, por exemplo, de difamar Jesus Cristo e de não mostrar reverência, tirando o barrete da cabeça quando passa uma procissão. A acusação não tem seguimento.
Entretanto, as inimizades vão crescendo em relação direta com os poemas que vai concebendo. Em 1694, acusado por vários lados (principalmente por parte do Governador Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho), e correndo o risco de ser assassinado é deportado para Angola.
Como recompensa de ter ajudado o governo local a combater uma conspiração militar, recebe a permissão de voltar ao Brasil, ainda que não possa voltar à Bahia. Morre em Recife, com uma febre contraída em Angola. Porém, minutos antes de morrer, pede que dois padres venham à sua casa e fiquem cada um de um lado de seu corpo e, representando a si mesmo como Jesus Cristo, alega "estar morrendo entre dois ladrões, tal como ao ser crucificado".

ANTOLOGIA


Formato: Livro                                                           
Autor: MATOS, GREGORIO DE
Idioma: PORTUGUES
Editora:  L&PM EDITORES
Assunto:  LITERATURA BRASILEIRA - POESIA
Edição:
Ano: 1999
Encadernacao: BROCHURA                                           

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                                                principais escritores                                              
1-padre antonio vieira (1608-1697)                                             

Biografia

Nascido em lar humilde, na Rua do Cónego, perto da Sé, em Lisboa, foi o primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta. .
Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em 1618.

No Brasil

António Vieira chegou à Bahia, onde em 1609 seu pai passou a trabalhar como escrivão no Tribunal da Relação da Bahia, o que motivou a vinda de toda a família. Em 1614, iniciou os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador,[2] onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se um brilhante aluno. Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em maio de 1623.
Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária. Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado. Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda Lógica, Metafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. Foi professor de Retórica em Olinda, ordenando-se sacerdote em 1634. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador.
Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus, caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da guerra.

PADRE ANTONIO VIEIRA - ESSENCIAL


Formato: Livro
Autor: VIEIRA, ANTONIO (PADRE)
Organizador: BOSI, ALFREDO
Idioma: PORTUGUES
Editora:  PENGUIN COMPANHIA
Assunto:  RELIGIÕES
Edição:
Ano: 2011
Encadernacao: BROCHURA

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Igreja de São Francisco, Salvador.
O Barroco no Brasil encontrou um terreno receptivo para um rico florescimento. Fez sua aparição no país no início do século XVII, introduzido por missionários católicos, especialmente jesuítas, que para lá se dirigiram a fim de catequizar e aculturar os povos indígenas, no contexto da colonização portuguesa daquelas terras vastas e virgens, descobertas pelos europeus há meros cem anos. Ao longo do período colonial vigorou uma íntima associação entre a Igreja e o Estado, mas como na colônia não havia uma corte e tampouco as elites se preocuparam em construir palácios ou patrocinar as artes profanas senão no fim do período, deriva que a vasta maioria do legado barroco brasileiro esteja na arte sacra: estatuária, pintura e obra de talha para decoração de igrejas e conventos ou para culto privado.
As características mais típicas do Barroco, descrito usualmente como um estilo dinâmico, ornamental, dramático, cultivando os contrastes e a expressão emocional, mais seu caráter narrativo e sua plasticidade sedutora, veiculam um conteúdo programático articulado com requintes de retórica e grande pragmatismo. A arte barroca brasileira foi uma arte em essência funcional, prestando-se muito bem aos fins a que foi posta a servir: além de sua função puramente decorativa, facilitava a absorção da doutrina católica e dos costumes europeus pelos neófitos - índios e logo em seguida negros - mas também fomentava o cultivo e confirmava a fé e as tradições dos conquistadores cristãos, que haviam chegado para dominar e explorar todo esse grande território, impondo-lhe sua cultura. Com o passar do tempo, os elementos dominados, neste caso mais o negro do que o índio, mais os artesãos populares de uma sociedade em processo de integração e estabilização, começaram a dar ao Barroco importado feições novas, originais, e por isso considera-se que essa aclimatação constitua um dos primeiros testemunhos da formação de uma cultura genuinamente nacional.
O poema épico Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira, é um dos seus marcos iniciais. Atingiu o seu apogeu na literatura com o poeta Gregório de Matos e com o orador sacro Padre Antônio Vieira, e nas artes plásticas seus maiores expoentes foram Aleijadinho e Mestre Ataíde. No campo da arquitetura esta escola se enraizou profundamente no Nordeste e em Minas Gerais, mas deixou grandes e numerosos exemplos também por quase todo o restante do país, do Rio Grande do Sul ao Pará. Quanto à música, por relatos literários sabe-se que foi também pródiga, mas ao contrário das outras artes, quase nada se salvou. Com o desenvolvimento do Neoclassicismo a partir das primeiras décadas do século XIX, a tradição barroca caiu progressivamente em desuso, mas traços dela seriam encontrados em diversas modalidades de arte até as primeiras décadas do século XX.                                                                                

Literatura jesuítica

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

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Literatura  jesuítica     


  Os impérios ibéricos continham em sua expansão uma profunda ambiguidade. Ao espírito capitalista-mercantil associavam um certo ideal religioso e salvacionista. Por essa razão, dezenas de religiosos acompanhavam as expedições a fim de converter os gentios.
Como consequência da Contrarreforma, chegam, em 1549, os primeiros jesuítas ao Brasil. Incumbidos de catequizar os índios e de instalar o ensino público no país, fundaram os primeiros colégios, que foram, durante muito tempo, a única atividade intelectual existente na colônia.
Do ponto de vista estético, os jesuítas foram responsáveis pela melhor produção literária do Quinhentismo brasileiro. Além da poesia de devoção, cultivaram o teatro de caráter pedagógico, inspirado em passagens bíblicas, e produziram documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos.
O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas (moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar os índios) foi o teatro. Para isso, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, utilizando-a como veículo de expressão. Os índios não eram apenas espectadores das peças teatrais, mas também atores, dançarinos e cantores.
Os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época foram o padre Manuel da Nóbrega, o missionário Fernão Cardim e o padre José de Anchieta.

 José de Anchieta (1534 - 1597)


Conhecido como o grande piahy ("supremo pajé branco"), Anchieta deixou como legado a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos (Arte da gramática da língua mais usada na costa do Brasil). Destacou-se também por suas poesias e autos, nos quais misturava a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas.
Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de são Lourenço, que preferiu morrer queimado a renunciar a fé cristã. Anchieta intentou conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indígenas, sem que isso significasse contradição, pois as ideias que triunfavam nos espetáculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenações saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som.
A obra do padre Anchieta também merece destaque na poesia. Além de poemas didáticos, com finalidade catequética, também elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expressão. Os poemas mais conhecidos de José de Anchieta são: “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Veja, abaixo, um trecho do poema:
  
 A Santa Inês 


Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.
Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.
Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
Vossa formosura
Honra é do povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Virginal cabeça,
Pela fé cortada,
Com vossa chegada
Já ninguém pereça;
Vinde mui depressa
Ajudar o povo,
Pois com vossa vinda
Lhe dais lume novo.

Vós sois cordeirinha
De Jesus Formoso;
Mas o vosso Esposo
já vos fez Rainha.
Também padeirinha
Sois do vosso Povo,
pois com vossa vinda,
Lhe dais trigo novo.
¹folga: se alegra
²lume: luz

 Fonte: http://www.soliteratura.com.br/quinhentismo/quinhentismo02.php